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DADO CARVALHO

 

(1946, nasceu em Aliança, município de Vassouras, Rio de Janeiro).
Poeta, locutor da Radio web música livre, formado em Letras.
Vive em Itapeva, São Paulo.

 

 

 

MELLO, Regina.  Antologia de Ouro IVMuseu Nacional da Poesia / Organização Regina Mello.  Belo Horizonte,  Arquimedes Edições, 2016.   160 p.  15 x 21 cm.  ISBN 978-85-89667-56-2
Ex. bibl. Antonio Miranda, enviado pela editora.

 

Letras no varal

Sinto-me, hoje, mergulhado nelas,
que entram pelas janelas quais borboletas,
subindo de minhas gavetas como beija-flores,
desde os alvores da manhã até a madrugada.

São elas. São letras. Letras em profusão,
na abençoada confusão do meu dia de poeta,
em hora incerta quer fazer das letras
algo louvável, significativo, apreciável.

Colho-as com mãos sôfregas como se colhesse estrelas.
Aperto-as ao peito pra que não escapem
e não me solapem o prazer da escrita.

Penduro algumas num varal e tenho um verso.
Mais outras, noutro varal, e assim vai balouçando ao vento
o singular evento que chamo estrofe.

Os varais agrupam-se sobre o verde prado,
e, para meu agrado, tenho quatro estrofes
nas quais disse tudo o que queria, que desejava,
mas relutava em lhe dizer.
Enfim o disse. Disse tudo sobre o grande amor
que sinto por você.



Palavras

Todo o poemário é feito de palavras soltas
que se entrelaçam, construindo imagens.
Algumas são fugazes, e como o “amor dos homens”,
não resistem ao mais leve sopro.
Outras, no entanto, fixam-se indeléveis
na alma, no âmago, na razão.

Poetas não são donos das palavras,
elas o dominam e fazem deles gato-sapato.
Palavras tem vida própria, têm alma.
Não são os poetas que as escrevem,
são elas que “escrevem” o poeta.

Chegam em bandos como andorinhas
barulhentas e satisfeitas num fim de tarde
em busca do pouso na inspiração do poeta,
que luta em busca das melhores.
No entanto, são elas que se adiantam,
que se intrometem, que se impõem.

Resta ao poeta ser apenas um escravo
dessas senhoras que o levam ao
lirismo de um mundo inventado.

*

 

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